quarta-feira, 25 de junho de 2008

Vermelho


Foto da Xará Preferida


Tua,
de seda e feno
no transe da metáfora
a fenda soletrada-sol,
vala de luz, vocabulário

Tua, folhagem. O
olho
alcança o Olho,
desce aos infernos:

sonha o cabelo da urna,
o vermelho
da cifra, a ferida
no centro da fogueira

Tua, tua

(Age de Carvalho, daqui)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Emendando

No dia em que você me beijou eu não pensei que fosse pra sempre.
Eu queria, queria, queria. E você demorava, demorava, demorava.
Eu me atrasei e você se adiantou. Nos encontramos no caminho. Nem em casa e nem no ponto de encontro. No meio.
Você queria ir longe demais e eu vetei. Você continua querendo e eu, vetando. Parece que nada mudou desde então.
Mas olhando percebe-se quantas coisas mudaram: cenas, cenários, ciúmes, canções, casais, casados - quase.
Continuo amando seu cabelo curto ou comprido. Seu jeito engraçado. Sua simplicidade. Sua, simplesmente. Integralmente eu posso dizer. Dos pés a cabeça e com o perfume que prefere. Pra sempre.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fomos perfeitos.
De Cléo Araújo.

Segurei sua mão antes de atravessar a rua. E de repente, pensei: acho que quero esse homem para sempre.Você e seu jeito engraçado de ser elegante, seu jeito elegante de ser engraçado. Como naquela vez, quando cruzou a sala para me acudir de uma cantada inoportuna... Foi como se não quisesse resgatar ninguém que você seguiu, despretensiosamente determinado a me tirar da área de investidas do amigo embriagado. Eu fingi nem perceber. Toda a sedução estava em deixar você ser assim, meio lord, mesmo quando tinha que lidar com um amigo cheio de mãos. Com você fui até meio mulherzinha. Foi naquele jantar, em que eu deixei você escolher o prato para mim. Logo eu, que chegava aos lugares com o menu lido previamente pela internet e que costumava indicar os pedidos que os outros deveriam fazer. Você me quebrou, me deixou gaga e me apresentou cordeiro ao molho de menta. E eu gostei.Você segurava minha mão sobre a mesa, onde uma luzinha de vela iluminava o estreito espaço entre nós. E eu nunca mais iria querer ser sozinha na minha vida se tivesse você me mimando daquele jeito, a segurar minha mão, a me indicar pratos de cordeiro ao molho de menta, a me servir taças de vinho e a me fazer querer você para sempre.Um pouco era só por causa daquela entrada que você tinha do lado direito da testa. Outro pouco era porque você tinha aquele olhar safado/cavalheiro de Matthew Mcconaughey. Ou talvez fosse só porque você era quentinho num dia frio. Eu gostava particularmente da manhã. Você era mais perfeito do que em outras horas do dia, pela manhã. Seus braços davam a volta no meu corpo e eu me sentia sedutoramente pequena e franzina. Acho que poderia me sentir pequena e franzina para sempre, ali. Eu ficava na cama e você ia se arrumando enquanto o quarto se perfumava de um aroma de melão. Então, você se vestia. Nunca houve no mundo alguém que ficasse tão bem em uma camisa branca. Você me arrastava até a cozinha, preparava ovo mexido, suco de laranja e café. Eu só assistia. Não fazia nada, a não ser deixar você cuidar de mim e de tudo.A gente saía, você segurava minha mão e assim ficava fácil de a vida ganhar sentido. Acontecia em cada esquina, quando a gente parava para esperar os carros e você me beijava. E segurava a minha mão. E me beijava de novo. E de repente, eu pensei: acho que quero esse homem para sempre.De mim você não esperou nada de elementar. De mim, eu sei, você sentiu saudade logo depois. Mas foi como num trecho de Lygia Fagundes Telles que o resto aconteceu. O meu “para sempre” virou um casamento com os mistérios. O seu “para sempre” eu nunca soube. Eu só sei que é do toque morno das suas mãos sobre meu rosto frio que eu me lembro...Toda vez que a temperatura cai.
roubei daqui.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Lendas rurais

Uma visita a uma cidade desconhecida pode surpreender. Jau, localizada no centro-oeste do estado, é a cidade que fui visitar uma amiga que teve bebê recentemente e me surpreendi desde a estrada até os costumes.
No caminho, eu e o namorado observávamos a paisagem e a predominância do plantio de cana para o lado que viajávamos. Sem brincadeira, era um mar de cana. 3/5 da estrada era cana; 1/5 era laranja; 1/2/5 era café e 1/2/5 era banana.
Para chegar na casa dela foi fácil e foi bom ver que ainda existe cidade do interior com cara de cidade do interior. Meus referenciais de interior não são mais cidades assim tão interioranas, como Campinas e São José dos Campos. A rua, em um bairro que está nascendo e até pouco tempo era vizinha de uma fazenda, só tem casinhas e é bem sossegada. A ponto de podermos colocar as cadeiras na calçada e ficarmos batendo um papo durante à tarde (coisa, aliás, bem de interior!).
Inacreditável também foi notar a quantidade de crianças e bebês que tem em uma só rua. Mais de 50% das poucas casas que tem a rua estão com bebês pequenos e/ou recém-nascidos. E em dia de vacinação, isso significou ver todos e ainda ouvir as lendas rurais acerca do assunto maternidade e crianças.
Primeiro a vizinha da frente veio conversar enquanto o marido levou a pequena Heloísa de 2 meses para vacinar. O assunto: a criança troca o dia pela noite e então disfilou-se o primeiro rosário sobre simpatias para resolver o problema: vesti-la com uma roupa ao contrário, colocá-la para dormir com os pés virados na cabeceira da cama, alimentá-la em posição invertida e mais outras tantas que nem consegui assimilar.
Pois bem, pouco depois outras vizinhas passaram pela rua com seus bebês e todos foram ver o mais novo morador e enquanto todos conversavam a mãe declarava que seu leite havia secado. E este foi o momento auge do meu sábado. Na lenda rural, acredita-se que provavelmente alguma mulher "roubou" o leite dela. E isso acontece quando uma mulher menstruada visita a mãe que ainda está de resguardo e não a avisa do fato, ou seja, a mãe de resguardo precisa ser informada ou perguntar se suas visitas estão menstruadas para que o leite não se vá com a mulher. Eu que não estava entendendo a princípio do que estavam falando questionei e então entendi a lenda, que veio seguida, obviamente, de diversas simpatias para saná-la.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Junina
Adriana Franco

Quermesse?
Quero mesmo!
Dia dos namorados: o diálogo

Com a aproximação da data dos namorados, indaguei o futuro marido:
- Amor, esse vai ser a última vez que vamos comemorar o dia dos namorados?
E ele me respondeu irritavelmente com outra pergunta:
- Por que você não vai ser mais a minha namorada?
Eu, irritada e taxativa, respondi:
- Não! Vou ser sua mulher.
E ele re-indagua:
- Mas você não vai ser mais minha namorada?
Eu, apaziguando:
- Não sei. É que a gente vai virar marido e mulher, que é "mais importante".
Ele reinterando a idéia inicial:
- Mas você não vai mais me namorar?
Eu, concordando:
- Vou.
Ele, concluindo:
- Então…

sábado, 7 de junho de 2008

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Cobrir feiras é...

... repor o estoque de caneta;
... ganhar vários brindes das empresas;
... camelar o dia todo;
... pauta, entrevista, matéria, entrevista, matéria, entrevista, matéria, entrevista, matéria.
... se encantar com algumas pessoas fofas e querê-las para si;
... acreditar-se competente;
... ser proletária para ganhar unszinhos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Delete
É a vontade que tenho de fazer com o dia de hoje que foi ruim: deitar, dormir e acordar de novo nesta segunda-feira só para fazê-la diferente e, quem sabe, um pouco melhor. Mas como não dá vou deletar.
Em poucos minutos separarei minha roupa de amanhã e me entregarei às cobertas para sentir menos frio e ler um pouquinho antes de dormir. O resto da semana já sei que vai ser pancada, então vou me preparar sonologicamente*.
* quem preparar a psique se prepara psicologicamente. Eu vou preparar meu sono.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Trabalho, trabalho e trabalho
Acho que a coisa vai começar a apertar. A semana voou. Tenho (ainda) milhares de coisas a fazer e nem sei por onde começo: pelos e-mails que invariavelmente terão que ser lidos, pelo acréscimo de imagens nas notícias já publicadas, no relato da reunião de hoje, nas providências que tenho que tomar, nas matérias que tenho que escrever, na organização das tarefas a fazer daqui em diante para depois não me perder. Nem sei. E como semana que vem eu já sei que vai ser difícil, não quero deixar muita coisa para depois. Quero me organizar e deixar tudo OK, mas hoje já é quinta e não estou no ritmo enlouquecido de trabalho para começar agora, mas amanhã o dia será curto e sábado começa com trabalho logo cedo e se estende com um show (que promete ser delícia) da CéU no Teatro Municipal e termina com o namorado. E domingo tem os outros compromissos assumidos e mais as coisas que invariavelmente vão sobrar. E UFA! Nem sei.
Só sei que pretensão me irrita tanto que dá vontade de chacoalhar a pessoa. Porque ela - no meu ponto de vista - não entende nada do que a gente tava falando. E eu, desculpa, sou pontuada pela experiência. Experiência, meu bem. E você não entende nada de setor INTERNO de comunicação. E só por isso já fica difícil de chegar a um entendimento. Grrr. É difícil. E a gente tem que se fazer de vencida, às vezes, só para não piorar a situação. E eu respiro fundo e mantenho a pose. Haja!
Sobre o feriado

E pouco depois de postar sobre o péssimo humor um convite me tirou de casa. Diverti a Xará com o latente sarcasmo de quem acha tudo ruim, péssimo porque na verdade o mundo é espelho Sebastião. Então fui. E combinei para o dia seguinte mais um encontro. E o sol e a vida feliz, embora acinzentada pelos meus olhos, animaram-me. E o efeito foi tão mágico mais tão mágico que na segunda-feira eu estava insuportável. De tão feliz.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Aritmética

TPM + uma notícia ruim + vontade frustrada de aproveitar o feriado = uma catástrofe no humor

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Siga as instruções

1- Aceite o convite de uma amiga para preparar um jantar surpresa para a mãe dela
2- Sirva de ajudante (ou subalterna, como ela prefere) durante todo o processo
3- Seja, de bandeja, elogiada
4- Experimente arriscar-se
5- Faça a mesma receita com algumas mudanças
6- Obtenha sucesso e fique feliz!

Quiche Lorraine adaptado para o namorado vegetariano. Meio bacon meio azeitonas verdes picadas.

A receita você pode pegar aqui.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Momento Luis Fernando Guimarães ou Super Sincero

O namorado se dirigiu ao banheiro e eu aproveitei para entrar na loja de maquiagem. Entrei e me encostei no primeiro nicho de maquiagem, mesmo porque era leve e combinava com meu gosto.
Enquanto olhava a vendedora se aproximou.
- Pois não, posso te ajudar?
- Não, obrigada. Só estou olhando.
- Mas quer que eu te ajude em alguma coisa? Procura algo específico?
- Não, sabe que é. Meu namorado foi ao toalete e eu acabei entrando na loja só para esperar por ele.
- Ah, tá!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Charada

O que é, o que é:
- tem sua rádio preferida salva no rádio do carro, mas não é seu namorado?
- cobra sua presença semanalmente, mas não é seu terapeuta?
- te manda vários e-mails, mas não é seu chefe?
- repara em você dos pés a cabeça, mas não é sua melhor amiga?
- te elogia sempre, mas não é sua mãe?
- pede palpites profissionais, mas não é sua irmã?
- te dá palpites profissionais, mas não é seu pai?

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Monólogo

Eu vou contar uma coisa, mas não quero nenhuma pergunta adicional. Eu não vou dizer mais nada. Escolhi meu vestido de noiva!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cinzas de Ciúme
Adriana Franco

Destruidor e explosivo
o ciúme agigantou-se
entre o certo e o incerto
da alma e do amor

Fez da carne um espasmo
e da boca um tremor
numa dúvida lancinante
de não saber mais quem eu sou

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Sobre casamentos

Eis que ser a primeira a casar tem benefícios e sacrifícios. Afinal são anos e anos de expectativa por esse momento. Não esperava-se, no entanto, que só chegaria na minha vez. Mas é assim que é. 3ª filha; 1º casamento. 3ª neta (avós maternos), 1º casamento.
E hoje fui a casa da minha avó, que não ia há bastante tempo. Saudades. Comentários sobre os preparativos é a toada. Porque, agora, a primeira pergunta que todo mundo me faz quando me vê ou fala comigo é: Como estão os preparativos? No começo, a resposta era devagar. Agora eu já digo: me enlouquecendo. Mas, confesso, é bom.
Toda vez que eu vou nos meus avós escuto um pouco da história do casamento deles. Hoje, por exemplo, soube que ela ainda tinha 20 anos, então como não era legalmente maior de idade o pai teve que permitir. E eles contaram dos preparativos, do vestido e tudo. E eu pedi, claro, as fotos.
E foi então que eu soube a melhor das histórias. Minha avó, filha de espanhóis, escolheu seu vestido quando tinha apenas 7 anos! Ela folheava uma revista e se deparou com o vestido. Na mesma hora correu para sua mãe e disse: É com esse vestido que vou me casar! Eles eram pobres e, talvez, ela ainda não tinha dimensão disso e ouviu como resposta um frustrante: Só se você casar com um homem rico porque a gente não tem condição de fazer um vestido desse.
Mas mesmo assim ela não desistiu. Guardou a revista por longos anos. E quando foi pedida em casamento pelo meu avô, disse: Meu sonho é casar com este vestido, mas não tenho condição de fazê-lo. Meu avô (LINDO!) disse que sem problemas. Ele fez o vestido para ela. Do mesmo jeito. E foi assim que ela realizou o sonho dela.
E é com essas histórias que ando me emocionando mais que tudo. Não sei se com todas é assim, mas se eu, normal, já sou chorona; eu, noiva, sou mais que o dobro.

sábado, 3 de maio de 2008

Covardia ao Norte
Adriana Franco

Tinha urgência de chegar
neste mundo de coragem
Partiu surdo de medo
pro castelo da incerteza

Desaguou em desafios
no universo de barulhos
Acabou em desalento
sem princípio nem saudade