sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Eu, a injusta

Tenho uma irmã que não é das melhores. Explico: ela sente inveja das coisas e acaba fazendo sua unha quebrar, sua roupa estragar, coisas assim. Ela é do tipo egoísta e que, por isso (entre outras características), não quer ter filhos. E, pra mim, quem não gosta de criança boa pessoa não é.
Umas semanas atrás ela foi na minha casa em um sábado de manhã. Bateu o olho no meu girassol florido e lindo e dois dias depois ele morreu. Eu tinha medo que ela visse o tal porque ele estava carregado com 7 brotos abrindo, além da flor maior e principal. Eu a culpei. Xinguei, fiquei P, indignada.
Ele até pareceu que ia vingar já que um outro brotinho começou a crescer. Mas que nada - morreu de vez!
Esta semana, pesquisando em como tentar ressucitá-lo descobri que a morte do girassol é normal e mais: inevitável. Descobri que a flor tem que estar só e não pode ter brotos como tinha o meu pois isso vai enfraquecer a flor maior e assim que ela morre todas as outras morrem também! Descobri que ele floresce mesmo apenas uma vez depois morre e solta as sementes, que podem ser plantadas em qualquer época do ano e são elas, as sementes, que florirão novamente.
Pois é, depois que eu li isso fiquei até me sentindo injusta. Até fiz mea-culpa pro marido sobre os comentários antes dito.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

QG de Hospital

Foi em um QG de Hospital que minha casa se transformou no sábado - tumultuando o sábado e atrapalhando todo o curso do final de semana.
Acordei, li e voltei a deitar. Preguiça em um sábado de manhã nublada é muito bem vindo. Até que o telefone tocou. Avó internada no hospital desde a madrugada com dor de cabeça.
Ela, que tem 79 anos, nunca foi parar no hospital. Por nada. A diabetes e a pressão alta são controladas, então ela nunca sentiu dor. A dor assustou e me deu medo. Em 15 minutos estava de banho tomado, saindo de casa rumo ao hospital da quadra de cima. Pela proximidade e pela necessidade foi lá que todo mundo se revezou pra almoçar e descansar entre um exame e outro, já que a maratona hospitalar acontecia desde às 0h de sábado.
Família toda reunida em volta dela que nem medicada melhorava. Exames, exames e exames pra descobrir a dor, que só foi passar lá pelas 19h quando o oftalmologista do hospital diagnosticou pressão alta no olho direito, que está com catarata, e tratou de forma adequada. Ela foi liberada, mas ainda assim a noite de domingo foi agitada e eu mal dormi.
O melhor do final de semana foi vê-la bem de novo no domingo de manhã. Satisfação sem medida.

Antibiografia

Maria Rita Kehl

Não, Antonio Prata, não é questão de arrependimento pelo que não fiz. As experiências perdidas constituem uma rede de lembranças legítimas. Pode até ser que o vivido mesmo, pão pão, queijo queijo, ocupe uma parte bem reduzida de nossas memórias. Penso que existe um acervo de saudades lotado de imagens do que se viveu só através de relatos alheios, da literatura e da imaginação. É possível ter saudades, por exemplo, da infância da sua avó, se ela te contou episódios com graça, imaginação e alguma nostalgia. Algumas cenas contadas por ela passam a te pertencer também.

As saudades do que eu queria ter feito e não fiz se constroem de trás pra frente. É depois, só depois, que você se dá conta de que prestou atenção ao que acontecia à sua direita e não percebeu algo muito mais interessante que se passava à esquerda. Ou vice-versa. Claro, existem também as escolhas. Nesse caso, penso que se eu quisesse mesmo, mesmo, fazer x em vez de y, teria feito. Essa coleção de vacilos escreve uma história. No horizonte virtual das possibilidades que foram deixadas pra trás deve haver um duplo meu, vivendo a vida que foi dos outros.

Não morei fora do Brasil, como tantos companheiros de geração. Nem com bolsa de estudos, nem lavando pratos on the road. Ficou na memória o aceno de Paris no postal mandado pela amiga que saiu da nossa moradia comunitária para estudar lá. Por alguma razão sentimental, achava interessantíssima a vida que tinha aqui, apesar do sufoco militar. Também não estive presa. Não lamento, é óbvio, mas tiro o chapéu para os que levaram a luta a tal extremo. Minha modesta militância contra a ditadura não foi considerada perigosa. Mas para mim, foi formadora: um terço, digamos, do que aprendi de importante nesta vida devo ao convívio com os colegas jornalistas e editores dos tabloides em que trabalhei.

Não fui mochileira exemplar, apesar de ter feito a peregrinação obrigatória pelas praias (em média, decepcionantes) do Nordeste. Mas não me encorajei a conhecer Machu Picchu, por exemplo, no tempo em que era obrigatória a viagem no teto do trem da morte lotado, com direito a dor de barriga por beber água de torneira.

Tinha uma vaga noção da importância do que acontecia muito perto de mim. O acaso decidiu o que vi e o que não vi, o que aproveitei e o que perdi. Não vi o show Opinião, de meu amigo 30 anos mais tarde Augusto Boal. Será que não? Então por que não me esqueço de Carcará, cantado por Maria Bethânia, desafiadora, com seu corpo de menino? Nem de Zé Keti - "podem me prender, podem me bater..."? E se também perdi Arena Conta Zumbi, como posso contar, digo, cantar, até hoje, o espetáculo quase todo? Quase me esqueço de que passei várias férias no Rio sem saber que existia o Zicartola. Esse não existe mais nem pra remédio. Mas sei tudo de Cartola, de cor. Perdi Pobre Menina Rica do Vinícius de Morais, e ouvi o disco até gastar. De Morte e Vida Severina, unanimidade nos anos 60, decorei todos os trechos do poema musicados pelo Chico Buarque.

Não recebi o impacto dos primeiros filmes de Glauber Rocha, nem do Godard dos anos 60. Mas não me entrego não - em matéria de filmes e livros, tudo se recupera. Viva os livros e filmes que não li nem vi. Por conta deles estou salva do tédio, até morrer.

A lista das coisas perdidas não tem fim. Só as canções eu não deixei passar. As canções me salvaram de ficar fora do mundo. Estavam todas no ar, trazidas pelo vento diretamente para minha memória musical. Respirei as canções, sonhei canções, entendi o Brasil desde o primeiro samba, porque existem as canções. Vivi sempre a condição dessa cidadania dupla, uma vida no chão, outra no plano das canções que recobrem o mundo ou, pelo menos, o país em que nasci. As canções ampliaram o meu tempo, transcenderam o presente e, numa gambiarra genial, juntaram um monte de pontas soltas desde antes de eu nascer até.

As canções: já que não virei cantora - opa: eis aí um arrependimento sincero! -, espero quem sabe um dia escrever alguma coisa à altura delas.
 
Amei a crônica de estreia de Maria Rita Kehl no Estadão este sábado e acrescento que a troca de Adriana Falcão por ela foi incrível. Adoro os livros da Falcão, mas as crônicas deixavam a desejar - e muito!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ando com pouca coisa para fazer no trabalho. Uma demanda aqui e outra ali - tudo esporádico, sem pressa e com bastante prazo pra entregar - o que tem me deixado livre a maior parte do tempo.
Por isso, tenho aproveitado para fazer nada: fico navegando e leio blogs, caçando informações sobre Buenos Aires e roteirizando minha viagem de férias (que ainda demora para chegar), fico planejando coisas para fazer no final de semana, checando a programação cultural de SP, caçando receitinhas gostosas que agradem ao marido, pensando em quê ainda preciso arrumar em casa e caçando coisas para deixar a casinha do meu jeito, enfim.
Há algumas semanas decidi dar fim a um dos meus planos e resolvi, de uma vez por todas, comprar o raio do adesivo da parede do meu quarto. Comecei cotando, depois fazendo o desenho e semana passada finalmente fechei tudo. Escolhi entre os modelos que queria, mandei pro lugar mais barato e paguei. Agora, fico aqui na ansiedade pra receber. Parece que chega hoje!!!