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quinta-feira, 19 de junho de 2008

Emendando

No dia em que você me beijou eu não pensei que fosse pra sempre.
Eu queria, queria, queria. E você demorava, demorava, demorava.
Eu me atrasei e você se adiantou. Nos encontramos no caminho. Nem em casa e nem no ponto de encontro. No meio.
Você queria ir longe demais e eu vetei. Você continua querendo e eu, vetando. Parece que nada mudou desde então.
Mas olhando percebe-se quantas coisas mudaram: cenas, cenários, ciúmes, canções, casais, casados - quase.
Continuo amando seu cabelo curto ou comprido. Seu jeito engraçado. Sua simplicidade. Sua, simplesmente. Integralmente eu posso dizer. Dos pés a cabeça e com o perfume que prefere. Pra sempre.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Fomos perfeitos.
De Cléo Araújo.

Segurei sua mão antes de atravessar a rua. E de repente, pensei: acho que quero esse homem para sempre.Você e seu jeito engraçado de ser elegante, seu jeito elegante de ser engraçado. Como naquela vez, quando cruzou a sala para me acudir de uma cantada inoportuna... Foi como se não quisesse resgatar ninguém que você seguiu, despretensiosamente determinado a me tirar da área de investidas do amigo embriagado. Eu fingi nem perceber. Toda a sedução estava em deixar você ser assim, meio lord, mesmo quando tinha que lidar com um amigo cheio de mãos. Com você fui até meio mulherzinha. Foi naquele jantar, em que eu deixei você escolher o prato para mim. Logo eu, que chegava aos lugares com o menu lido previamente pela internet e que costumava indicar os pedidos que os outros deveriam fazer. Você me quebrou, me deixou gaga e me apresentou cordeiro ao molho de menta. E eu gostei.Você segurava minha mão sobre a mesa, onde uma luzinha de vela iluminava o estreito espaço entre nós. E eu nunca mais iria querer ser sozinha na minha vida se tivesse você me mimando daquele jeito, a segurar minha mão, a me indicar pratos de cordeiro ao molho de menta, a me servir taças de vinho e a me fazer querer você para sempre.Um pouco era só por causa daquela entrada que você tinha do lado direito da testa. Outro pouco era porque você tinha aquele olhar safado/cavalheiro de Matthew Mcconaughey. Ou talvez fosse só porque você era quentinho num dia frio. Eu gostava particularmente da manhã. Você era mais perfeito do que em outras horas do dia, pela manhã. Seus braços davam a volta no meu corpo e eu me sentia sedutoramente pequena e franzina. Acho que poderia me sentir pequena e franzina para sempre, ali. Eu ficava na cama e você ia se arrumando enquanto o quarto se perfumava de um aroma de melão. Então, você se vestia. Nunca houve no mundo alguém que ficasse tão bem em uma camisa branca. Você me arrastava até a cozinha, preparava ovo mexido, suco de laranja e café. Eu só assistia. Não fazia nada, a não ser deixar você cuidar de mim e de tudo.A gente saía, você segurava minha mão e assim ficava fácil de a vida ganhar sentido. Acontecia em cada esquina, quando a gente parava para esperar os carros e você me beijava. E segurava a minha mão. E me beijava de novo. E de repente, eu pensei: acho que quero esse homem para sempre.De mim você não esperou nada de elementar. De mim, eu sei, você sentiu saudade logo depois. Mas foi como num trecho de Lygia Fagundes Telles que o resto aconteceu. O meu “para sempre” virou um casamento com os mistérios. O seu “para sempre” eu nunca soube. Eu só sei que é do toque morno das suas mãos sobre meu rosto frio que eu me lembro...Toda vez que a temperatura cai.
roubei daqui.

sábado, 24 de novembro de 2007

O amor começa*

O amor começa porque um dia já acabou. Basta um olhar cruzado, um toque de mãos, um abraço apertado e um beijo roubado para que o amor regresse; na escola, numa danceteria, em um bar, no supermercado, na sorveteria, no cinema, em um jogo de basquete, durante o trabalho, em qualquer lugar o amor nasce; é com carinho, abraço, palavras escritas e ditas, músicas, conselhos, incentivo, flores, presentes, perfumes, camas e lençóis; e-mails, bilhetes, SMS e fotos que ele cresce, vive e se fortalece; começa porque devia, porque não devia, como não se queria, depois de se ter pensado, planejado e sonhado; acontece de manhã, de tarde, de noite, durante a madrugada, depois de um encontro ou antes dele, por causa de um e-mail, de um telefonema dado ou um casaco esquecido; dura muito, pouco, o suficiente, demais, ultrapassa as previsões, os limites, o esperado, o pretendido; pulsa em parques, nos shoppings, nos pátios dos colégios, entre as mãos dadas, durante os abraços, no cruzamento do olhares, em línguas que se tocam e em lençóis bagunçados depois do amor sorvido; o amor começa porque ele tem que chegar não importa em que época da vida seja e ele sempre vem pra balançar, pra bagunçar, pra estabelecer, pra ajeitar, pra consertar um coração quebrado ou um amante incorrigível; às vezes, o amor começa de forma proibida, entre primos, entre enteados e madrastas, entre professores e alunas, entre maridos e amantes, entre esposas e personal-treiners, entre patrão e empregado, entre amigos, entre vizinhos; pode acontecer com você a qualquer hora – se já não aconteceu -, com seu pai, sua mãe, seu professor, sua vizinha, sua amiga, sua irmã, sua sobrinha, seus filhos e netos; começa estrategicamente em uma armação adolescente, como se fosse uma aventura juntar duas pessoas que estão ali lado a lado na sala de aula, na busca frenética dos não amados em todas as noitadas, de segunda a sexta, porque o amor é artigo raro e todo querem provar o seu gosto; o amor pode começar sem querer, sem perceber, sem se entender, em um dia de semana de tarde, numa quinta ao amanhecer ou ao anoitecer de um domingo, enquanto os que já amam estão juntos e não se preocupam com nada mais do que sorver o que o amor lhes dá; o amor também começa em parágrafos mudos, com mãos trêmulas, pernas bambas, taquicardia, vergonha; ele chega mesmo em salas de esperas, em escritórios indefectíveis, com músicas bregas, em um elevador que parou dando tempo que os amantes se olhassem para que o amor notasse que era ali mesmo que ele devia estacionar; o amor começa em um luau na praia, no entardecer cinza da cidade e no amanhecer caipira do interior; o amor começa depois de uma batida de carro, em uma consulta médica, pois o amor sentencia seu começo, se impõe, se instala e não tem mais jeito por mais que algumas pessoas finjam que não, se enganem, disfarcem ou neguem, mas o brilho nos olhos entrega e aos poucos todos se rendem porque não vai mesmo ter jeito; então o amor recomeça já que um dia acabou e teve que voltar porque sem amor, - ah, sem ele – ninguém vive!



* homenagem contrária e adversa à Paulo Mendes Campos

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Declaração de amor

Não sei se a intenção de Xico Sá era escrever um texto de amor ou o quê. Só sei que pra mim soou como a declaração de amor mais bonita que li nos últimos tempos.

Olhos não se compram. (Xico Sá.)

Do cinema lindo & phoda de existir e de como uma mulher pode encantar nos detalhes de nós dois. Quando ela pede pra gente virar os olhos ou fechá-los bem fechados. Só enquanto troca a calcinha, vupt, o barulhinho do elástico, mesmo com toda intimidade desse mundo, às vezes intimidade de anos, vale, vale. Só enquanto troca o sutiã, biquíni, parte de cima, ajeita a parte de baixo, areia do doce balanço da beira dos mares, só enquanto tira uma toalha do banho, primeira viagem, só enquanto está lindamente menstruada e quer guardar-se, embora saiba que atravessamos com amor e gosto todo o seu mar vermelho e ainda mais mares aparecessem a cada mês. “Feche os olhos”, diz. “Vira o rosto”, safadeza-se, diva sob seguras telhas. Só para manter o suspense do cinesmascope debaixo do mesmo teto. “Pronto, pode olhar”. Ai ela ressurge mais linda ainda, cabelinhos molhados, com aqueles cremes todos da Lancôme ou com simples sabonetes Dove ou aqueles de nove em cada dez estrelas de Hollywood, Lux, deluxe, eu morro nesses lapsos de tempo, elipses do desejo, frações de segundo que são eternas de olhos fechados para quem meus olhos na terra, que há de comê-los inté os aros dos óculos e as safenas, mais abriram e justificaram seu brilho castanho mesmo em dias de torpor e existência de pára-brisas lusco-fusco.

Xico Sá é cronista do Blônicas