quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Osso duro de roer

Ontem fui assistir Tropa de Elite. Só posso dizer que o filme é osso duro de roer. As cenas de agressão eu pulei, todas. Fiquei escondidinha pra não ter que ver. Mas ainda não sei o que penso sobre o filme.
Primeiro de tudo acho que o começo alivia toda e qualquer ação. Como se fosse a desculpa perfeita, o filme começa com uma frase que diz que não é o caráter que determina as condições de um homem, mas, sim, o contexto social em que ele vive. Para mim, isso foi claramente uma forma de justificar toda e qualquer ação violenta da polícia e da forma de repressão do BOPE, mas também posso muito bem encarar a frase como justificativa pro tráfico, oras. Quer pior condição social de quem vive no morro? Eu não estou do lado do bandido, mas tão pouco quero ficar do lado de quem entra na favela para matar e não para morrer, como explicou o Capitão Nascimento.
Achei incrível no filme coisas como a hora que o policial repreende a classe média que faz passeata pela paz, mas consome droga e financia o tráfico, o crime organizado, a violência, etc. A classe média é claramente aquela que vai dizer que deve ter segurança pública e políticas eficientes e, ao mesmo tempo, vai financiar o tráfico sem pensar que ele está num círculo vicioso que vai acabar contra ele mesmo.
Mas o filme também tem suas obviedades. Ele conta como se fosse novidade que só existe uma ONG no morro se o dono dele, o traficante, permite. E quem não sabe disso? E quem não sabe que todos e qualquer criança e adolescente usado no tráfico como aviãozinho vai proteger quem te dá o que comer, roupas, proteção, etc? E quem faz isso? O traficante, claro.
E eu fiquei super pensativa com o filme porque se de um lado você não acha certo que matem as pessoas da favela, mesmo que elas trafiquem etc, você também pensa que uma amiga sua foi assaltada e que deviam fazer exatamente aquilo com os bandidos e com aqueles que também já te assaltaram.
E se o Capitão Nascimento está certo em dizer que quem matou aquele cara lá no morro tinha sido aquele estudante, que comprava a droga lá no morro, a mãe do menino aviãozinho também está certa em dizer que quem matou o filho dela foi o BOPE que o fez entregar quem estava com a carga.
Depois de colocar tudo isso no "papel" concluo mesmo que não há justiça. De nenhum lado. Nem por parte da polícia que mata e nem dos traficantes. Apesar que o filme não mostra nenhuma ação violenta dos criminosos de forma direta, gratuita, apenas como reação às ações policiais. Enfim, não conclui nada. Continuo confusa com toda esta questão social que o filme mostra.
Mas a produção é ótima. Adorei ver a música que usei na abertura do meu documentário de conclusão de curso no filme e gostei do começo entrecortado com a dança de funk no morro. Gostei de muitas cenas. Gostei dos atores, até do Caio Junqueira que não gosto. Gostei do Wagner que está sem sotaque - exceto por uma pequena parte das cenas, mas bem pequena mesmo. Gostei das músicas, do roteiro. Gostei. Gostei de algumas frases chocantes e de algumas situações que, embora limite, me fizeram rir. É a comédia do trágico.
Mas o final me deixou com a pulga atrás da orelha. Porque aí sim o Matias teria virado um verdadeiro policial?

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