terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sobre o oposto da vida

Primeiro foi a irmã que partiu. A mais velha. Meio sem porquê. Do nada. O acontecimento que ninguém espera. E aí a mãe decaiu. E a mãe que inventava doenças pela vida inteira começou a tê-las de verdade. E também se foi.
A casa, outrora grande, já não tinha mais tanta gente. O irmão, que era louco de verdade, ia e vinha do sanatório. Era ele o único responsável pelas fortes emoções da casa. Mas adoeceu. Pensou que era Aids porque ele estava magro demais, debilitado demais. Na internação descobriu-se o câncer, na garganta, que não o permitia comer. E sem tempo de sofrer também partiu. E na casa de três quartos, salas, cozinha, quintal e biblioteca só restou ela e o pai.
A idade do pai o fazia perder os movimentos, a visão, até ser dependente de novo. Até sentar-se na cadeira de rodas. Hoje ela ligou porque o pai está internado. UTI. Ela é boa em previsões, talvez já aprendeu a conversar/negociar com a morte. Diz que ele não deve passar de amanhã.
E ela não deve nunca ter pensado que a vida ia ser assim: uma sucessão de perdas. Não tão cedo. Como todo mundo achou que não ia ser a última a partir, por não ser a mais nova. Com certeza pensou que contaria com a ajuda dos irmãos na hora de enterrar os pais. Mas não foi assim. Nem sempre a vida é justa. E parece que a morte não leva muito em conta o que a gente acredita e quer na vida.

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