sábado, 21 de julho de 2007

Podia ter sido comigo

Sexta-feira estava na saída do metrô quando olhei para uma pessoa que estava ao meu lado e achei que ela não tinha a melhor das caras e nem a melhor das aparências. Pensei que devia sair dali porque eu estava sozinha. Só que ao mesmo tempo eu reparei que ele olhava fixamente para a menina que caminhava para fora do metrô e falava ao celular.

Eu já tinha reparado nela fazia alguns segundos e estava até prestando atenção na conversa dela, que era sobre exames, talvez uma consulta e o pagamento durante o final de semana. Quando ela chegou bem mais perto foi que reparei nessa pessoa e vi que em um impulso ele se direcionou a ela. Então, me vieram dois pensamentos: 1) eles se conhecem e ele a estava esperando; 2) ele vai bater nela! Sim, não foi só com ímpeto que ele se dirigiu à ela, foi com tudo e com as mãos em direção ao rosto dela dando a impressão de que iria pegá-la e bater, sei lá.

Na mesma hora em que pensei isso (2), ela também deve ter pensado a mesma coisa e se assustou com aquela pessoa que vinha pra cima dela. Ele simplesmente pegou o celular dela disse Bom Assalto! e saiu correndo. Na mesma hora comecei a passar mal de medo: tremedeira, suar frio, desorientação, etc. O outro grupo de pessoas que estava na minha frente também ficou assustado e resolveram sair da frente do metrô. Como eu estava esperando uma pessoa resolvi que era melhor entrar no metrô, pois isso me daria um pouco mais de segurança.

Fiquei super nervosa porque podia ter sido comigo. Eu estava ali, do lado dele e bem mais perto da moça que estava falando ao celular e carregando uma bolsinha, que ele podia ter levado com ele. Fiquei assustada e sei que voltarei a andar pelas ruas da cidade aterrorizada por uns dias até que a má impressão acabe. Mas acho que as coisas só nos causam estranhas sensações exatamente quando nos damos conta de que poderia ter sido conosco. E foi assim esta semana e este não foi a única situação.

No meio da semana foi a vez do acidente da TAM me abalar de verdade. Claro, eu fiquei chocada como todas as pessoas. Achei triste e tudo mais. Até queria escrever sobre o acidente aqui, mas depois pensei que talvez usaria as mesmas palavras que todos já havia usado: indignação, tristeza, revolta, tragédia anunciada, pista que termina dentro da cidade, etc. Enfim, achei que não ia valer a pena e passei a vez.

Até que a Thaty me ligou perguntando se eu estava sentada. Já sabia, pelo tom de voz, que era notícia ruim na certa. Juro mesmo que pensei em morte só não associei ao acidente naquelas frações de segundo. Foi quando ela me contou que a irmã de uma amiga de colégio morrera no acidente.

Advogada e jovem - apenas 29 anos - como muitas pessoas que estavam no avião, mas muito mais próxima de mim do que todas as outras. Deixou uma filha de 3 anos e um marido, além da mãe, das irmãs, das amigas, dos outros familiares, etc. E foi aí que eu não agüentei. Foi aí que chorei de verdade pensando que podia ter sido na minha família. Foi aí que eu pensei que os parentes, amigos e até o marido vão ter muitas lembranças dela, mas a filha não.

Eu nem consegui escrever nada no orkut para essa amiga de colégio. Esperei mais uns dias para digerir melhor a história. Me sentir mais capaz de pensar e tentar escrever alguma coisa. E então, nessa semana foi que pensei que a gente sofre pelas tragédias principalmente quando nos colocamos no lugar das vítimas fatais e das vítimas indiretas. E é também nesse momento que a gente percebe o quanto a vida é frágil e, por isso, sofre e chora como aconteceu comigo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Arrepiei. :/

Anônimo disse...

(Você podia escrever textões imensos como esse sempre, né?

Anônimo disse...

Lu, que bom que gostou do texto. Quer dizer, você gostou?

Dri, ou melhor, menina com uma gérbera rosa, eu fico com medo de escrever textões aqui e ninguém ler. Mas a partir de agora não vou mais de reprimir e vou adotar o lema dos Menudos: Não se reprima!

Beijos nas duas queridas