quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Então, a gente resolveu que a gente vai brincar de: eu mexo com você e você mexe comigo.
Tudo começou porque eu resolvi mandar um e-mailzinho bem bacana. Pra mexer com ele e saber qual seria a reação dele. Mas claro, que o feitiço virou contra o feiticeiro e ele mandou um e-mail pra mexer comigo. Tentei ligar lá e como não consegui mandei um e-mail agora. Quer ver como começou?

Elas passam (Danuza Leão)

Quantas vezes por dia você tem uma vontade louca de alguma coisa? Se prestar atenção, vai ver que várias.
Os gêneros são variados; vontade de comer chocolate, de telefonar para ouvir a voz da pessoa amada, de sair do trabalho às três da tarde e ir ao cinema, e por aí vai; todas são pouco recomendáveis - e a graça é exatamente essa. Você já ouviu alguém dizer, depois do almoço, que está louco de vontade de ir a uma reunião para resolver problemas da empresa?
Algumas das vontades precisam ser adiadas - o que só faz com que elas aumentem de intensidade. Pensar que só vai poder trocar o carro depois de receber o décimo-terceiro não mata ninguém e esperar pelo que se quer sempre tem sua graça; mas nunca resistir a uma vontade pode se tornar uma maneira perigosa de viver.
Existe uma diferença entre vontade e desejo; o desejo é mais forte, mais ameaçador, mais intenso, mais perigoso. Não se tem vontade de um homem; um homem se deseja.
Depois dos quarenta é raro que haja um encontro entre duas pessoas que estejam, ambas, livres e desempedidas. Pelo menos uma delas está enganchada num casamento ou num caso complicado - o que só faz com que o desejo aumente; mas ceder ao desejo é perigoso, pois um dos dois pode se apaixonar.
Tudo começa por um vago interesse que começa do nada; por ela ter um pé bonito, por ele segurar o braço dela com uma certa firmeza na hora de atravessar a rua, por ela fazer um carinho na cabeça de um cachorro, por ele acender o cigarro de um jeito que ela achou engraçado. O verdadeiro perigo começa quando, em algum momento, os dois se olham e sustentam o olhar por dez segundos.
É como quando se pára num sinal e chega um garoto querendo limpar o vidro do carro. Se você olhar para ele, dançou; a única maneira de impedir a aproximação é se os olhares não se encontrarem nem por um segundo. Entre um homem e uma mulher é igual.
Voltando ao parágrafo anterior: por dez segundos não: cinco são suficientes para que se estabeleça um clima. Se na mesma noite isso acontecer duas vezes, prepare-se para o próximo capítulo: o desejo, que não costuma respeitar nem as convenções nem a moral vigente; e depois dele, talvez, a paixão.
O desejo não quer saber de nada, se vai ou não revolucionar a vida de ninguém: ele chega e derruba quem estiver na frente. Desejar é perigoso, e como certos atos não costumam ser praticados imediatamente numa mesa de bar sempre há tempo de refletir e decidir se continua ou desiste.
Não dá para fazer tudo que se quer; aliás, até dá, mas a conta chega - sempre chega. Se você comer uma caixa de chocolates, vai engordar dois quilos; se telefonar à tarde para ouvir a voz do namorado, ele vai achar que você já está no papo; se deixar o trabalho à tarde para ir ao cinema, vai para o olho da rua.
Se apaixonar é sempre maravilhoso e quase sempre o caos: e ainda tem aquele homem com quem está há tanto tempo, de quem gostou tanto e que te conhece tão bem. Aliás, como é difícil encontrar quem nos conheça, ou melhor, quem esteja interessados em nos conhecer. Mas, se o outro homem - o novo, que faz você palpitar de desejo - se apaixonar e disser que não ode viver sem você, aí começa o problema. Uma paixão não pode ser vivida unilateralmente.
Onde foi que a coisa complicou? Foi quando os dois acharam que as vontades existem para serem satisfeitas. Nenhum deles pensou na verdade mais elementar: que a vontade acontece, mas passa.
É triste reconhecer, mas a vontade passa. Lembra daquele vestido que você viu na vetrine e achou que morria se não comprasse? Do dia em que jogou tudo pro alto porque pintou uma viagem que nem lembra mais para onde porque morria se não fosse? Daquele homem por quem abriu a mão do mundo para ficar com ele? Em que cidade mesmo você se apaixonou, qual era mesmo o tipo de música de que ele mais gostava, qual era mesmo seu prato favorito, aquele que você aprendeu a fazer tão bem? Pois é, passou.
Faça um teste: da próxima vez em que tiver um desejo daqueles de perder a respiração e achar que pode morrer, tão grande ele é, conte até três, com ou mil.
Pobre de quem passa a vida sem querer nada, porque as vontades e os desejos são as melhores coisas dessa vida.
Mas passam.



Oi Léo, estive lendo essa crônica no final de semana e achei que mais que definia o que aconteceu, explicava. Então, acho que a gente devia pensar um pouco sobre isso. Acho que resume bem o seu medo de depois desistir, não é que você desiste, mas que a vontade acaba passando. Claro que o grande caos de tudo foi eu ter me apaixondado. E pra paixão não tem jeito. Ela não passa como as vontades eos desejos, ela é tudo o que fica disso. Ninguém tem culpa, as coisas são simplesmente assim.
Será que estou certa nessa minha conclusão ?
Desculpa te fazer pensar nisso, na gente e em tudo. Mas acho que isso veio pra fechar muita coisa, pra me fazer entender (de uma vez por todas) que acabou e que, como muitas coisas, não tem mais jeito. Apesar da paixão, do que ficou.
A paixão fez valer a pena, fez eu não me arrepender, a me fazer insitir (até demais) e não me deixar desistir. Mas tudo acaba e a gente precisa saber que hora as coisas precisam mesmo terminar.
Os desencontros atuais reafirmam que tudo já devia ter acabado, que foi simplesmente um final de semana e muitas histórias pra contar. Espero não fazer ressaltar mágoas em você e que esteja tudo bem, que nosso caso mal-resolvido possa ser resolvidos dentro de nós mesmos, porque é só a gente que resolve. Se resolve.
E que, um dia desses, a gente possa ser apenas amigos. Com tudo resolvido e acertado.
Adoro você e isso tudo não te tira do meu coração, nem sua importância e nem nada.
É só mais uma tentaiva de me resolver.
Um beijo especial
Didi

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