quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

A banca

Eu não conseguia falar. Nervoso, emoção, ansiedade. Ao invés da voz, lágrimas - aos montes. Que vergonha, queria tanto ter conseguido falar. A Bianca começou, entreguei os pontos e passei a bola. Bebi água, me recompus. Falei rápida, entre respiradas fundas para conseguir. Não olhei para ninguém. A Bianca falou. O vídeo começou e na metade dele estava com vontade de chorar mais. Muito mais. Na primeira fila, mãe, namorado, irmã, amigas e mãe postiça. À minha frente, a banca e uma orientadora que também chorava. Depois do vídeo, a primeira fila tinha chorado - só vi quando as luzes de acederam - e as amigas faziam caras de incentivo, a mãe chorava. A primeira pergunta vinda do convidado: algo relacionado ao jornalismo social e a prática jornalística nisso tudo. A Bianca responderia, mas me lembrei de outra questão. Pedi para falar antes. Mencionei a Associação Nacional dos Jornalistas Sociais, um respiro em todo esse jornalismo marrom e sujo praticado hoje. Uma ressalva, apesar de pequena. E a orientadora balançava a cabeça em sinal de aprovação e incentivo. A Bianca terminou de responder. Depois o professor da casa, que gastou cerca de trinta minutos em elogios. Sem parar. Achei, a princípio, que ele fosse levantar a bola e dar uma cortada fenomenal como no jogo de vôlei. Não, foram apenas elogios e duas perguntas: como foram as abordagens com as pessoas em situação de rua e como ficava a nossa relação com a Ocas" a partir daquele momento. A Bi respondeu a primeira e eu, chorando, respondi que não sabia, mas que certamente uma coisa que eu tinha aprendido na Ocas" e eu ia levar para o resto da minha vida: era nunca mais passar por uma pessoa na rua indiferente a ela, sem pensar na sua história, na sua vida. E ele se deu por satisfeito. Enquanto a banca resolvia a nota, fora da sala, algumas meninas que estudaram de manhã conosco vieram me cumprimentar e a Mari ficou batendo fotos. A banca voltou e então a orientadora disse que tinha sido muito fácil nos orientar, que tinha sido muito gostoso e ela lembrava quando eu cheguei toda segura, com uma revistas em mãos e um brilho nos olhos dizendo: este é o nosso tema! Ela disse que desde aquele momento tinha visto a poesia de nosso trabalho, palavra esta que ela pegou emprestada do professor da casa, que havia dito que nosso trabalho estava muito poético. E então, bateu no microfone para imitar o rufar de tambores e anunciou a nota: 10 - com título de louvor. E os aplausos vieram, de pé. Muitos, muitos, muitos abraços. Algumas pessoas que participavam do documentário estavam lá e foi melhor ainda. E então eu terminei meus 23 anos como jornalista e comecei os 24 como tal. Que venha 2007 porque eu quero muito mais.

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