segunda-feira, 15 de abril de 2002

Oi bebe, sei que a estas horas ainda deve estar dormindo, e como não vou te acordar e sei que assim que tu ti levantar tu correrás pro computador aqui vai uma crônica pra tu ler e pensar sobre umas coisinhas que acho que tu sabe bem sobre o quê e quem é...
espero que sirva... e é sua uma ajuda, uma coisa que achei que se encaixa, mais nada, tá ? Beijos... Ah porque eu sei que tenho intimidade suficiente...
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Um passinho atrás, por favor

12.abril.2002

A (falsa) intimidade, às vezes, bagunça tudo. Já teve um tempo que eu achava que a intimidade era irmã gêmea da cobrança. Só quem tem — ou acha que tem — intimidade com você se dá ao direito de cobrar atitudes, posições e dar respostas que você não perguntou e que geralmente nem quer saber.

Eu, que não gosto de ser "chamada às falas", penei muito para conseguir conviver com essa tal intimidade. Aprendi, com muitos anos de tentativa e erro (poucos acertos), que quando as pessoas acham que podem ou querem, simplesmente invadem (ou tentam) e intimidam seu pedaço com as atitudes mais inusitadas e absurdas.

Tem aquelas pessoas que simplesmente resolvem mudar sua cadeira preferida de lugar, após alguns dias em sua casa. Se você deixar por isso mesmo é bem possível que um dia, ao chegar em casa, você descubra que mudou de endereço. Tem quem ache que deve dizer que você não deveria usar sapato com jeans ou que precisa colocar um batonzinho para disfarçar a palidez, e tem ainda aqueles que não sabem da missa a metade e acreditam piamente que são enviados iluminados para dizer o que é preciso que se faça na sua vida pessoal.

Mas isso nem é o mais grave. O pior mesmo é que essas pessoas nem se dão conta que ultrapassam a linha amarela. Nem percebem que depois dela, existe alguém de carne e osso que carrega sua bagagem e tem uma vida — nem sempre arrumadinha — para tocar. Aí, quando você pede que a pessoa não ultrapasse a linha, que nessas alturas já está vermelha de tanto espanto, a tal da intimidade se acha tão íntima que até se ofende.

Aí é que eu fico tentando entender, aprender e absorver esse tranco. Acho que é melhor começar a entregar as contas e perguntar quando devolvem os canhotos pagos, ou desfiar inúmeros problemas e pedir que só liguem quando tiverem a solução. Quem sabe isso possa afugentar os falsos íntimos, já que nunca vi alguém, por mais intimidade que tenha, assumir ou se responsabilizar pela vida dos outros.

Nem mamãe, que um dia me disse sem dó nem piedade: "a partir de agora é com você". Pois é, a gente tenta.

Claudia Letti
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