domingo, 30 de setembro de 2007

Sobre o oposto da vida II - a continuação

Ela pode ter acertado na previsão da mãe, do irmão e da vó. Mas errou na do pai. Ele ainda está lá. Na UTI, em coma induzido é bem verdade, mas está lá.
Esse final de semana recebeu visitas. E andam dizendo mesmo que ele é um verdadeiro Vieira, que não vai ser desta vez que a morte o levará. Talvez ele viva tanto quanto a mãe, que chegou nos 90-e-tantos. Ele, que é tio-avô, já tem 83.
Ela vai todo dia visitá-lo. Entra no quarto imenso e vazio apesar da aparelhagem toda. Durante o dia todo são as máquinas que o fazem companhia. Ela vai lá por algumas horas. Conversa com ele e antes de ir embora se despede, como se fosse a última vez.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Definição do dia

Sabe feliz? Sabe barriga doendo de tanto rir? Sabe vontade de fazer um monte de coisas legais? Sabe?
Eu sei.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sobre o oposto da vida

Primeiro foi a irmã que partiu. A mais velha. Meio sem porquê. Do nada. O acontecimento que ninguém espera. E aí a mãe decaiu. E a mãe que inventava doenças pela vida inteira começou a tê-las de verdade. E também se foi.
A casa, outrora grande, já não tinha mais tanta gente. O irmão, que era louco de verdade, ia e vinha do sanatório. Era ele o único responsável pelas fortes emoções da casa. Mas adoeceu. Pensou que era Aids porque ele estava magro demais, debilitado demais. Na internação descobriu-se o câncer, na garganta, que não o permitia comer. E sem tempo de sofrer também partiu. E na casa de três quartos, salas, cozinha, quintal e biblioteca só restou ela e o pai.
A idade do pai o fazia perder os movimentos, a visão, até ser dependente de novo. Até sentar-se na cadeira de rodas. Hoje ela ligou porque o pai está internado. UTI. Ela é boa em previsões, talvez já aprendeu a conversar/negociar com a morte. Diz que ele não deve passar de amanhã.
E ela não deve nunca ter pensado que a vida ia ser assim: uma sucessão de perdas. Não tão cedo. Como todo mundo achou que não ia ser a última a partir, por não ser a mais nova. Com certeza pensou que contaria com a ajuda dos irmãos na hora de enterrar os pais. Mas não foi assim. Nem sempre a vida é justa. E parece que a morte não leva muito em conta o que a gente acredita e quer na vida.

sábado, 22 de setembro de 2007

Aquele encontro

Da outra vez que a gente tinha se visto você sentiu ciúmes. Daquela vez que a gente tinha se visto todo mundo prcebeu que sua atenção era só minha. Naquela noite eu dancei forró com o seu amigo, que também é meu. Você tentava fingir que não estava nem aí, mas não parava de olhar. No final das contas, você rodou na mesa feito peão e acabou sentado do meu lado. Naquela noite eu tive certeza que nem todo mundo gostava de mim, mas também soube que outros meninos da sua turma eram muito legais e alguns outros ainda se lembravam de mim, mesmo depois de tanto tempo. Você se aborreceu por, de repente, eu estar tão bem entre tantos meninos. E, então, ficou com uma menina. Eu fui embora e a gente não se despediu. Lembro que depois você disse que tinha se arrependido do seu comportamento. Você ainda era tão menino que minha presença te desnorteava. Você era tão menino que não sabia onde colocar as mãos. Você ainda era o menino pelo qual me apaixonei e hoje já não é mais, mas ainda me olha da mesma forma. Você já sabe onde colocar as mãos, apesar delas ainda tremerem quando chegam perto de mim. Será que eu ainda te desnorteio como antes?
Amanhã

Temporada das Flores [Leoni]

Que saudade agora me aguardem,
Chegaram as tardes de sol a pino,
Pelas ruas, flores e amigos,
Me encontram vestindo meu melhor sorriso,
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.

Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.

Eu te trago um milhão de presentes,
Que eu achava que já tinha perdido,
Mas estavam na mesma gaveta,
Que o calor das pessoas e o amor pela vida...
Me espera estou chegando com fome,
Preparando o campo e a alma pra as flores,
E quando ouvir alguém falar no meu nome,
Eu te juro que pode acreditar nos rumores.

Me espera amor que estou chegando,
Depois do inverno a vida em cores,
Me espera amor nossa temporada das flores.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Os livros, a Copa, as resenhas e a opinião

Enquanto acompanho a Copa de Literatura fico pensando em qual será o papel da resenha. Lembro-me de um professor, na faculdade, dizer que a resenha tinha que despertar a sua vontade de ler aquele determinado livro ou assistir ao filme resenhado. Mas não foi o que aconteceu ontem. Durante a quarta partida da Copa (As sementes de Flowerville, de Sérgio Rodrigues X Corpo estranho, de Adriana Lunardi) eu fiquei com vontade de rasgar os dois livros; de sequer chegar perto de nenhum deles apesar da linda capa do livro de Sérgio e da história do livro de Adriana parecer muito boa.
Eu não li nenhum dos livros que disputam, mas fiquei, por exemplo, morrendo de vontade de ler Música Perdida de Luiz Antonio de Assis Brasil e resenhado por Olivia Maia. Por que sou gorda, mamãe? de Cíntia Moscovich e resenhado por Renata Miloni também me despertou interesse. E o mais engraçado é que em si - os dois livros que me interessaram através dos argumentos - talvez não me interessariam de outra forma. Um porque trata do amor em paralelo com a música e apesar de eu gostar muito de música não conheço e nunca estudei música ou qualquer instrumento, o que me afasta um tanto considerável do tema. Já o outro tem um título meio auto-ajuda e por tratar do tema 'peso' jamais me faria olhá-lo mais que uma vez em qualquer prateleira de livraria.
E aí, eu fiquei aqui pensando. Será essa a função da resenha? Despertar nosso interesse mesmo sendo sempre escrita por uma ótica tão pessoal de quem a faz? Porque eu amo o jornalismo, acredito no seu poder, mas jamais em sua imparcialidade. E então fica tão subjetivo ler uma resenha que vale a pena pensar uma segunda vez e até pedir outras opiniões ou, quem sabe, nunca mais lê-las.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fazendo (ou perdendo) as contas

1 ano é igual a 365 dias ou 8.760 horas ou 525.600 minutos.
Mas de quantos pensamentos é feito um ano? De quantas palavras escritas? De quantas palavras ditas e ouvidas? De quantas fotos tiradas? De quantos suspiros? De quantos sonhos? De quantos encontros? De quantos desencontros? De quantas vontades? De quanta vida? De quanto?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Frágil uma pinóia
Meu tipo mignon engana. 1,60m de altura e quase 45kg. Do tipo que todo mundo diz que não pode abraçar muito forte porque quebra. Não, eu não quebro. Posso ter cara de boazinha e jeito quietinho e tímido dando margem às pessoas interpretarem como santinha, mas aviso logo: De anjo não tenho quase nada. Por aqui não salvam nem os cabelos enrolados.
Então, não se surpreenda se passar por mim na rua e a cara estiver fechada. Se eu disser: Vocês podem fazer o favor de calar a boca que eu to tentando dormir. Ou se depois de esperar um bom tempo pelo suco virar para a garçonete com a pior das caras e a mais seca das vozes: Ei, cadê o suco, hein? Ou então quebrar o pau no telefone porque eu só vou pagar pelo MEU diploma o que a LEI determina.
É claro que você também pode passar por mim na rua e me ver sorrindo à toa, cantarolando, caminhando alegremente. Sou a pessoa que vai passar creminho gelado nas suas costas e pés caso eles estejam ardidos do sol ou até a única irmã capaz de levantar da cama e ir buscar um copo de água enquanto você está no computador.
Lado bom e lado mau. Lado grosso e lado meigo. Eles andam assim, todos juntos, em mim.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A conversa

A data. Eis o assunto. Que puxou o começo. Que puxou antes. E engatou a conversa descontraída. De guarda totalmente baixa falamos, rimos. Desvaneamos nos "e se..." que não aconteceram, mas podiam. Quando você perguntou 'quando' eu assustei e pensei: homens também pensam nisso? Como você soube que eu estava pensando nisso, que é por esses dias? Você simplesmente sabe, como eu. A conversa morreu, mas o assunto ainda voltou no mesmo dia.
Entreguei os pontos. Eu não fui lá pedir um autógrafo - mesmo que tenha feito isso -; eu só fui lá confirmar se era você mesmo quem respondia aos e-mails. Era um truque e você caiu. Porque apesar de tudo, eu não tinha certeza. Aliás, a incerteza era tamanha que a pergunta saiu exatamente assim: - Não sei se você se lembra de uma menina que te escreveu um e-mail dizendo que queria ser Malu. Então ... E eu nem precisei completar a frase, terminar o raciocínio. Antes disso você me olhou, sorriu e estendeu os braços indicando qual era o caminho mais curto para um abraço. Certeza acompanhada de olhar surpreso, sorriso e abraço é melhor que qualquer coisa. Eu soube e você ainda completou: - Eu tenho o seu e-mail guardado até hoje.
Você pode até questionar - E se eu tivesse dito que não lembrava, que eu recebia milhares de e-mails como aquele? - porque a gente sabe que não foi assim que aconteceu.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Tem muita vida lá fora

Ando vivendo. Muito. O calor e o desemprego tem me empurrado pra rua. E é incrível ver as pessoas pelas ruas em pleno dia, durante a semana. Porque quando a gente está trabalhando, fica na frente de uma tela iluminada, concentrada, em uma sala. O mundo acaba; é só aquilo ali; como se o mundo fosse você e tudo o mais que tiver só ali dentro daquela tela ou o seu redor na sua sala. Como eu trabalhei por quase um ano e meio em uma sala bem grande, com muitas pessoas que falavam e riam muito e um dia de calmaria era raro, quase não percebia que havia outra coisa. Meu mundo era isso: aquela sala com tijolos aparentes na parede oposta, com janelões que permitiam a entrada da luz do sol ou até o escurecimento da sala em caso de tempestades, com gritarias, telefones, uma sala ao lado e muita gente circulando, entrando, saindo, pedido, comentando, conversando, trabalhando, produzindo, divertindo, distraindo, etc. Pra mim, parece estranho circular pelas ruas dos bairros e ver que tem gente andando, passeando, trabalhando, transitando. É a vida que pulsa e é a vida que quero tanto retratar. Eu queria um emprego em um jornal diário, ter correria, ter que ir na rua, voltar e poder ter as duas coisas: uma mesa com um computador e uma tela iluminada que tem vida dentro, mas que me permita também tratar da vida que eu vi na rua e merece ser retratada. Porque tem tanta vida lá fora que não é possível que eu não encontre algo interessante pra contar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A minha fome

Eu tenho fome de: um emprego novo, de desafios, de amigos sempre perto, de livros, de descobertas, de viagens, de fotos, de letras e palavras, de carinho, de abraço apertado, de notícias boas, de gente feliz, de manualidades, de músicas que digam coisas boas, de filmes que acrescentem, de beijos, de atenção, de amor, de chocolate, de doces em geral, de atitudes positivas, de pensamentos bons, de unhas vermelhas, de conversas sinceras, de revistas, de organização, de listas, de cabelos molhados, de praia, de calor, de verão, de boas companhias, de risadas, de segredos, de vontades, de sol, de lua, de céu estrelado, de rede, de colo, de chá, de amores, de e-mails, de cama quentinha, de tudo que me faça feliz.
E você, tem fome de quê?